– Queria saber qual o segredo dessas árvores – continua o seu Dorival. – Elas são altas, fortes e sadias. Mesmo velhas, não quebram com vento. Já as árvores da cidade, aquelas das calçadas, são pequenas, feias, cheias de defeitos e doenças. E quebram com qualquer ventinho.
– Não há segredo – respondo. – A diferença está no fato de que estas árvores nunca foram podadas, ao contrário do que ocorre com as árvores dos passeios públicos. E quando uma árvore é podada, ela fica exposta a todo tipo de doenças que entram pelos ferimentos dos cortes. Na tentativa de defender-se desses ataques, a árvore então solta um número excessivo de brotos, que vão se transformar em galhos fracos. Além disso, nessa luta natural pela manutenção da espécie, como a árvore “interpreta” que está morrendo (pois um ser humano está de fato lhe matando), ela produz quantidade exagerada de frutos, com número excessivo de sementes. O que incomoda ainda mais os inimigos da vida (aqueles que reclamam que a árvore suja as calçadas e os automóveis). E tem ainda outra consequência desagradável: as árvores podadas, na luta desesperada pela vida, engrossam as raízes, para se firmarem melhor e retirarem mais nutrientes do solo. Com isso, acabam estourando as calçadas.
– Mas então é um banditismo podar uma árvore – replica seu Dorival, entre indignação e pena.
– Não só um banditismo, mas também uma burrice amazônica – aproveito para disparar, já que o “clima” é favorável a mim. E às árvores. E continuo uma espécie de palestra sobre a importância das árvores para nossa vida:
– O tão falado aquecimento global é resultante do lançamento excessivo de gases na atmosfera, principalmente de CO2 (dióxido de carbono), o que provoca um agravamento do chamado efeito estufa. E as árvores funcionam exatamente como controladores dos níveis de CO2 na atmosfera, o que faz concluir, com segurança, que o homem é absolutamente incapaz de continuar vivendo sem a companhia das árvores, já que esse gás (e outros), em excesso, é veneno mortal para a vida animal.
A função principal das árvores é captar e armazenar na madeira os gases tóxicos do ar, principalmente o dióxido de carbono. Logo, quando uma árvore é podada ou cortada, esse carbono que está dentro dela é liberado para a atmosfera, vindo a causar doenças em seres humanos, animais e vegetais e, como já disse, a elevação do calor pelo agravamento do efeito estufa. Em outros termos, quando uma árvore é podada ou cortada, além de parar de captar os venenos do ar, libera os gases tóxicos que estão dentro dela. Assim, não se tem dúvida que a destruição das árvores é a principal causa do grande desastre climático que ocorrerá muito breve, se o homem não mudar seu comportamento.
Mas as árvores possuem inúmeras outras funções importantes para nossa vida na cidade: a) reduzem a poluição do ar, provocada principalmente pela queima de combustíveis dos veículos automotores e indústrias; b) minimizam a poluição sonora; c) equilibram a temperatura da cidade; d) amenizam a força do vento; e) servem de habitat para os pássaros que enfeitam nosso dia-a-dia; f) protegem o lençol freático; g) evitam o ressecamento do ar através da transpiração; h) fornecem sombra para os automóveis e pessoas e i) embelezam a paisagem.
Há estudo comprovando que apenas uma árvore transpira a média de 400 litros de água por dia. Isso significa que cada árvore retira do fundo da terra e lança no ar cerca de 400 litros de água por dia, para que possamos respirar.
– Então as árvores da Cotrijuí estão cumprindo seu papel; as do centro da cidade, não – finaliza seu Dorival, satisfeito por ter compreendido tão importante assunto.
*Por Nilton Kasctin dos Santos, professor e promotor de justiça